CICLONE, 2022
de Leonor Cabral
espaço e luz Tiago Cadete


A partir dos diários meteorológicos do artista norte-americano Henry Darger, CICLONE investiga a ascendência da condição meteorológica sobre a condição humana: o desejo de transformar, de criar ordem no caos, de procurar novas realidades. Parte de uma observação objetiva do tempo atmosférico e do binómio previsão/acontecimento. O ciclo de expectativa/desilusão associado à previsão meteorológica é transposto pa ra uma leitura mais humana, sendo que o corpo é o lugar privilegiado para esta pesquisa: lugar de destruição e reconstrução.

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Teoria da inspiração, 2022
de David Marques
espaço e luz Tiago Cadete


Inspiração. Julho, 1992 – no Teatro Virgínia, em Torres Novas, apresentava-se o espetáculo que marcava o fim do ano letivo da escola de dança onde tinha acabado de entrar. Sentado na plateia, com seis anos, não podia imaginar quanto aquela peça encheria os pulmões do meu trabalho coreográfico.

Expiração. Ao procurar a cassete VHS onde o tinha gravado, percebi que ela tinha desaparecido. Sem o registo vídeo, abria-se espaço para um exercício de rememoração e especulação.

Conspiração. Numa conversa recente com a professora de dança Helena Azevedo apercebi-me que Mulher Traço Variações tinha sido criado com o intuito de agradar ao público torrejano que, no ano anterior, teria abandonado a sala insatisfeito durante a apresentação das alunas. Para minha surpresa, o espetáculo-inspiração de 1992 aparecia-me agora, não como um projeto vanguardista, mas antes como um gesto de aproximação, obrigando-me a questionar a minha própria mitologia.

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BAqUE, 2022
de Gaya de Medeiros
espaço e luz Tiago Cadete


BAqUE é um espetáculo-concerto e uma celebração. Num ritual de afetos e fábulas, um coletivo de pessoas trans experimenta uma utopia em que todos os corpos são iguais e já não existe género, nem qualquer outro marcador que nos diferencie. Propomos (re)narrar o mundo e as relações que nos conectam com a existência: falar de tudo o que nos vibra na vida e de tudo o que nos faz parar de vibrar nela. BAqUE procura responder à pergunta: se o meu corpo não viesse antes de mim, eu falaria sobre quê?
Esta peça nasceu do desgaste frente às antigas narrativas acerca das corpas trans, sempre conectadas à dor e ao sofrimento. Enquanto artista, interesso-me por trazer novas narrativas acerca de outros modos possíveis de estar no mundo. Nessa busca, aproximei um elenco muito diverso nos seus talentos para evidenciar a potência e a disforia alegria das existências peculiares.

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Dança sem vergonha, 2020
de David Marques
espaço Tiago Cadete


'Nos últimos anos, tenho procurado formas de dançar e razões para dançar. Apercebi-me, enquanto dançava em casa, nos estúdios e em discotecas, de um prazer comum nestes contextos que me fazia continuar. Com poucas ou nenhumas testemunhas, esta dança paralela de prazer pareceu-me surgir entre um formalismo musical e uma expressividade emocional sem constrangimentos.
A minha 'dança sem vergonha' talvez exista apenas no teatro e só seja possível pelo cruzamento de vários espaços, tempos e motivações: o quarto que associo ao tempo da infância, a discoteca que associo ao tempo da adolescência e o estúdio que associo à idade adulta. Ao teatro associo o tempo do presente, durante uma performance, de ambos espetadores e intérpretes. Dançada por mim esta dança-sensação é imediata e refletida, simples e complexa, referencial e naif, abstrata e simbólica, séria e divertida, íntima e partilhada, técnica e despreparada.'

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