Golden, 2014 

GOLDEN é um projecto que junta duas gerações da dança contemporânea portuguesa Mariana Tengner Barros e Carlota Lagido, duas bailarinas que pelas suas afinidades performáticas criam discursos particulares sobre a mulher reposicionando o seu lugar de poder na afirmação de conteúdos coreográficos. É neste confronto com os seus universos subjectivos que pretendo criar um processo alquímico que revela um novo estado de criação para a duas interpretes.

GOLDEN imerge dos subterrâneos de Mariana Tengner Barros e Carlota Lagido transformando esses lugares em simulacros das suas imagens, através de elementos multimédia e com essas transmutações contribuir para a obtenção de um elixir que ascende a uma ideia de eternidade icônica, para tal serão convocadas materiais dos seus anteriores espectáculos criando desdobramentos através de um olhar fantasmagórico dos seus Alter Egos artísticos com recurso à utilização do video e da música.





Golden, 2014


GOLDEN is a project that unites two generations of portuguese contemporary dance, Mariana Tengner Barros and Carlota Lagido, two dancers that by means of their performatic afinities can create particular speeches about women, repositioning her place of power in the statement of choreographic contents. It’s in this confrontation with their subjective universes that I intend to create an alchemic process that reveals a new state of creation for the two interpreters. GOLDEN emerges from the underground of Mariana Tengner Barros and Carlota Lagido to transform those places in simulacra of their images through multimedia elements and to contribute with those transmutations to obtain an elixir that ascends to an idea of iconic eternity. Materials of their former performances will be conjured to spread out through a phantasmagoric look of their artistic Alter Egos through resources like video and music. GOLDEN is about the degradation of the Self, a game of appearances, a dispute of Egos.




Criação:TIAGO CADETE
Textos, criação e performance: MARIANA TENGNER BARROS e CARLOTA LAGIDO
Apoio à dramaturgia: JOÃO MANUEL OLIVEIRA
Figurinos: ANTÓNIO MV
Direcção Técnica: NUNO PATINHO
Co-produção: CITEMOR e FESTIVAL
TEMPS D´IMAGES
Produção: EIRA
Apoio: CASA DO CARNAVAL
A EIRA é uma estrutura apoiada pelo GOVERNO DE PORTUGAL/ SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA - DIRECÇÃO GERAL DAS ARTES


07/08/2014 CITEMOR [avant-première] Montemor-o-Velho [PT]
12 e 13/12/2014 Festival Temps D´Images Lisboa [première] [PT]

Press

Mariana e Carlota querem ter um unico corpo
por Gonçalo Frota  
Jornal Público


“She” is indefinitely other in herself

Luce Irigaray

In gold we trust. Podia ser um panegírico capitalista, mas neste caso, não nos interessa o valor do metal. Interessam as mutações, permutações e cambiantes que transformam o ferro em ouro, um combate em alegria, o orgasmo em gozo. Este trabalho de Tiago Cadete parte à procura do que muda e como muda. Carlota Lagido e Mariana Tengner Barros implicam-se num processo que busca a individuação, a procura do outro em nós, a busca de uma relacionalidade que não é estritamente relação harmónica. Um ritual alquímico através do qual o encontro se dá, transformando-nos em espectadores de estranhas cumplicidades, conflitos em latência, refigurações desse história da sororidade, a estranheza de duas mulheres juntas apesar da desconfiança ancestral misógina. O que podem fazer duas mulheres? Quais os limites da ação deste par? Uma mulher é já um milhão, duas são o infinito?

Nesta peça joga-se a procura do ego no outro, jogos de espelhos, uma loura outra morena, risos e choros de rebeldia, e à repressão que lhe é oferecida, ela (elas?) ri-se e olha-lhe nos olhos e com o seu riso desfaz os séculos, ecoa pelos tempos, mostra que não há futuro. Nora entra na casa de bonecas e não está lá nada. Alice doesn’t e não só não mora aqui, doesn’t in general. Infinitas, cúmplices, parceiras do crime, Thelma e Louise a planarem pelos penhascos, não caem, continuam a planar. Transmutam-se, fluidas, em fluxo. Bruxas a dançarem à volta da lua, dança lunática. Um quarto que seja meu e onde possa experimentar baratas, logo a condição humana. Um abismo e uma vertigem este sexo que não é só um.

João Manuel de Oliveira